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Presidente da Associação Brasileira dos Médicos Veterinários de Equídeos, Rui Vincenzi, defendeu a padronização dos procedimentos para evitar o que chamou de “dança de resultados"
A inconsistência de resultados positivos e negativos no exame que avalia a presença da Bactéria Burkholderia Mallei em equinos e equídeos tem gerado desconfiança e indignação em criadores, tratadores e veterinários.
Os laboratórios habilitados que realizam o exame do Mormo no Brasil enfrentam dificuldades para lidar com uma peculiaridade: a sororeversão, o desaparecimento, em novas amostras, dos anticorpos que indicavam a infecção em animais antes positivados para a enfermidade bacteriana, mas sem haver uma cura.
Essa foi a pauta da segunda audiência pública da Comissão de Agricultura (CRA) para discutir o tema, nesta quinta-feira (7). Reuniram-se os representantes dos criadores, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e dos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagro), vinculados ao Ministério.
Rede Lanagros e Laboratórios Particulares
Atualmente, os Lanagro de Pernambuco e Pará são os mais capacitados para realizar o exame do mormo, explicou Leandro Barbieri, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa.
O governo vem trabalhando para expandir essa rede, que conta com seis Lanagros e 28 laboratórios particulares credenciados nacionalmente, disse ainda.
(Veja a lista de Laboratórios Credenciados)
Do resultado desses exames, depende a decisão de suspender ou não as atividades de um haras e de sacrificar animais contaminados.
A pesquisadora Fabiola Correa, do Lanagro-PE, garantiu que as técnicas em uso no Brasil são as mesmas adotadas por laboratórios em países com os quais a instituição tem estreita colaboração.
— Estamos em treinamento, estamos trabalhando em conjunto. A perspectiva é boa, mantemos contato constante com o pessoal de referência de Alemanha, França, Dubai. Trabalhamos em conjunto, a gente trabalha com as técnicas disponíveis, com o que existe no momento, mas claro que podemos melhorar —, afirmou.
Porém, esses exames às vezes têm dado resultados falsos. Negativo, apesar de haver contaminação, ou positivo e o animal não estar realmente doente, ou, ainda, apresentar os sintomas, mas não possuir a bactéria.
Para que os diagnósticos sejam seguros, o presidente da Associação Brasileira dos Médicos Veterinários de Equídeos, Rui Vincenzi, defendeu a padronização dos procedimentos para evitar o que chamou de “dança de resultados”.
Problemas com o envio de amostras, o acondicionamento e a temperatura, por exemplo, em sua opinião, afetam os resultados.
— O ideal seria termos reagentes iguais, tanto na rede credenciada particular como na rede oficial, tanto do reagente, dos antígenos, das técnicas, se é a frio ou a quente. Talvez a padronização seja um dos fatores que vai eliminar esse problema do positivo-negativo —, disse.
Segundo Fernando dos Santos, médico veterinário do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), um dos problemas está na sensibilidade dos testes disponíveis.
Um dos desafios para o futuro é adotar uma combinação de exames que possibilitem mais sensibilidade e mais especificidade, com baixo custo e disponíveis no comércio.
O site Horse Talk publicou matéria, no mês passado, expondo o temor da Comunidade de Pesquisadores Internacionais quanto ao movimento de cavalos pelo mundo, devido a irregularidade nos diagnósticos de animais infectados com o Mormo.
(Veja abaixo)
Liberação de Haras e Hípicas Interditadas por causa do Mormo
Autor do requerimento de audiência, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) acusou o governo de atuar com dois pesos e duas medidas nas interdições dos haras.
A Coudelaria Souza Leão, em Pernambuco, onde já foram sacrificados mais de 200 cavalos, está interditada desde 2009.
Com o Complexo Militar de Deodoro, no Rio de Janeiro, onde serão realizadas as provas de hipismo nas Olimpíadas e houve o diagnóstico de um cavalo com mormo, a situação foi diferente (Veja tabela com os Casos do Mormo em 2015, notificados a OIE.)
— É muito difícil para nós entendermos dois pesos e duas medidas na análise.
O Complexo Deodoro ele foi liberado em pouco mais de trinta dias. E as outras propriedades rurais estão sendo interditadas há anos. Nós temos aqui proprietários de haras que quebraram, estão falidos —, lamentou.
Leandro Barbieri, do Mapa, explicou que a desinterdição das propriedades obedece a um processo e a demora depende de cada caso, e revelou que o processo em Deodoro levou cinco meses e não um, como afirmou Caiado.
Ronaldo Caiado e o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) sugeriram uma parceria entre produtores, órgãos técnicos e o Ministério da Agricultura para dar adotar uma padronização nos exames e melhorar o diagnóstico e, assim, dar celeridade à liberação das propriedades.
— Estamos diante de uma doença complexa, com diagnóstico complicado. Nunca tinha ouvido falar que você pode ter, na sorologia, positivo, depois negativo e o animal ainda ser considerado doente. É uma coisa complexa, e a base dessa confusão toda é essa, dá uma insegurança muito grande —, lamentou Moka.
Estatística segundo a Organização Mundial da Saúde Animal - Primeiro Semestre de 2015 |
Opinião da Comunidade Internacional
O site Horse Talk publicou matéria, no mês passado, expondo o temor da comunidade de pesquisadores internacionais quanto ao movimento de cavalos pelo mundo, devido a irregularidade nos diagnósticos de animais infectados com o Mormo.
Anthony Chaleira e Ulrich Wernery, em uma publicação no Equine Veterinary Journal, analisou o risco de mormo no movimento internacional de cavalos. Ainda existem muitas dúvidas sobre como se comporta a proliferação da bactéria causadora do Mormo em animais.
"Enquanto pensava ter apenas apresentações agudas ou crônicas, que agora parecia que B. mallei pode ter infecções latentes semelhantes a Burkholderia Pseudomallei.", descreve o Site Horsetalk.
E deixa explicito uma temeridade:
"Essas infecções latentes podem ou não ser detectáveis por testes de diagnóstico atuais," Kettle e Wernery observam.
Os pesquisadores ainda ressaltam que além de falsos positivos causarem transtornos aos proprietários como tem ocorrido com o Mormo no Brasil, há o risco de falsos negativos que podem permitir a re-introdução da B. Mallei em Áreas Livres da Doença.
Recentemente a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul emitiu uma normativa aumentando o prazo de validade do exame do Mormo de 60 para 180 dias no Estado.
E conclui: "Estas lacunas no conhecimento da epidemiologia e pontos fracos no diagnóstico, juntamente com o aumento da circulação de equídeos, representam um grande risco de infecção no movimento internacional de equídeos devido a B. Mallei".
Fonte: Assessoria de Imprensa do Senado Federal / Organização Mundial da Saúde Animal/ Site Horsetalk
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